terça-feira, 3 de maio de 2011

Tim Maia (1970)


"Deus me deu o dom da voz". Essa frase poderia muito bem estampar o primeiro disco do brasileiro Sebastião Rodrigues Maia, em 1970. Não por fanatismo religioso ou jogada de marketing, mas pelo fato de que o Brasil e o mundo haveriam de comprovar que aquele tijucano de 28 anos havia nascido para cantar.

Nem precisou tanto. Intitulado apenas, Tim Maia, o primeiro disco do "sindico" mais amado do Brasil revelou de forma simples e direta todo o talento de um artista nato.

Após a consagração mundial da Bossa Nova e em meio à efervescência da contracultura no Brasil, Tim lançou pela Polygram o disco que trouxe para o País o magnetismo envolvente da black music americana dos anos 70. Um gênero que encontrou no talentoso, maluco, carismático e genial Tim Maia, o seu maior expoente por aqui.

Um álbum atemporal. O primeiro de muitos discos fundamentais na história da música brasileira. Canções como, Coronel Antônio Bento (Luís Wanderley e João do Vale) encontraram de forma maravilhosa os elementos que tornariam a música de Tim tão rica e particular: a junção da soul music com o universo brasileiro.

Toda essa mistura teve seu ponto alto em "Coroné Antonio Bento" (Luiz Wanderley/João do Valle), faixa que intensificava a genialidade com que Tim brincava com o suwing do soul de mãos dadas com o sertão de Pernanbuco.

Com o paraibano Genival Cassiano, outro grande arquiteto da música brasileira, ele compôs "Padre Cícero". Essa música inclusive virou trilha sonora de um dos maiores sucessos da teledramaturgia brasileira, a novela Irmãos Coragem. Carregada de simbologismos e fé, "Padre Cícero" teve seu refrão modificado na versão televisiva para que o principal personagem da trama de Janet Clair, João Coragem, ganhasse ainda mais empatia com o público.

A participação de Cassiano foi essencial nesse primeiro disco de Tim Maia. São dele "Você Fingiu", a bela "Eu Amo Você" e o primeiro sucesso, "Primavera" (as duas últimas em parceria com Silvio Rochael). Faixas como "Cristina", "Flamengo" e "Azul da Cor do Mar", evidenciavam a sofisticação e o cuidado de Tim com os arranjos. Além de uma interpretação primorosa, difícil de se encontrar no cenário atual.

Mais de três décadas depois este álbum ainda impressiona pela força de suas canções, pela riqueza das melodias e de seus arranjos, tornando-se um disco obrigatório para os fãs de Tim Maia e para os interessados na história da música brasileira.